Relatório indica exploração de mulheres e crianças do Paraguai para esmolar em Foz


 Nos últimos meses aumentou o número de mulheres e crianças do Paraguai sendo utilizadas para pedir esmola no Brasil. A constatação é de um relatório que vem sendo elaborado, desde abril de 2019, por autoridades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, ligadas às pastas de assistência social. A intenção é que a Polícia Federal aprofunde a investigação sobre a exploração de crianças e mulheres paraguaias.


Diariamente, de acordo com o relatório, mulheres de Ciudad del Este cruzam com crianças pequenas a Ponte Internacional da Amizade para pedir esmola em Foz do Iguaçu. A suspeita é que exista uma organização criminosa atuando na exploração dessas pessoas. "A situação é muito delicada e preocupante", disse o secretário municipal de Assistência Social, Elias de Sousa Oliveira.


De acordo com Elias, a partir de abril do ano passado foi verificado um aumento de mulheres e crianças que vêm ao Brasil pedir esmola nas ruas. "Nossas equipes chegaram a abordar 37 mulheres e 40 crianças em situação de vulnerabilidade em um mesmo dia… A média mensal chega a cem abordagens do gênero, e a reincidência é o que mais nos preocupa", afirmou.


As mulheres e as crianças, revela o secretário, não portam documento e, quando recolhidas e encaminhadas ao Consulado paraguaio no Brasil, voltam para a atividade pouco depois. Na maioria dos casos, apenas pedem esmola nas ruas, tanto do centro de Foz do Iguaçu quanto na região da Ponte da Amizade.
Em ambos os locais existe uma grande movimentação de turistas. Mas há casos ainda mais graves, contou Elias, em que meninas de 12 e 13 anos são vítimas de exploração sexual. 

Dificuldade
A resistência das vítimas e a falta de informações sobre o parentesco das crianças reforçam ainda mais a possibilidade de que elas estejam sendo exploradas por uma organização criminosa. "Nenhuma delas tem documentos, e isso é proposital, para que não sejam identificadas aqui. Elas são trazidas e monitoradas por uma organização paraguaia", assegurou o secretário.


De acordo com Elias, foram identificados homens e veículos que trazem essas vítimas para o lado brasileiro e, em muitos casos, vigiam-nas de longe. "Tivemos casos em que funcionários da Assistência Social foram ameaçados por esses homens durante abordagem às vítimas", relatou.


O trabalho de abordagem das vítimas é feito com o apoio da Guarda Municipal. A força policial é necessária, uma vez que as vítimas oferecerem resistência, muitas vezes correm para tentar atravessar a rua, colocando em risco a própria vida.

Procedimento
Após a abordagem, informou o secretário, o Consulado paraguaio no Brasil entra em contato com o Codene (órgão similar ao Conselho Tutelar), que recolhe as vítimas e as leva para as cidades de origem — Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandárias e Minga Guazú. 


A atuação do órgão, assim como a cultura e a lei de proteção às crianças e às mulheres são diferentes nos dois países, disse. "Hoje nós atuamos do lado brasileiro, mas não há uma efetividade nesse aspecto do lado paraguaio. Por isso, vamos unir nossas informações", adiantou.

Informações: GDia/Ronildo Pimentel
Foto: Roger Meireles